segunda-feira, 4 de março de 2013

Inverno




Foi no tempo invernoso das celebrações
Brilhavam luzes nas montras quando em mim se acendeu a chama das certezas.
E foi na sombra de um desassossego enraivecido
Que estilhacei contra o chão os vidros
Afogando-me depois no sangue de uma ferida aberta.
Mutilada.

Abriguei-me da vida na sombra ácida do estar simplesmente aqui
E sucumbi.
Nem as aves me encontraram para me debicarem as vísceras.

E no entanto havia as tuas mãos marcadas
Num resto de vida que me confundia os dias e as noites.
Como se um vento tivesse varrido a lucidez
E sobrasse apenas o pranto.
E o espanto.

Um muro alto vedou-me a luz
E o labirinto confundiu-me, numa solidão desconcertada.
Mutilada.
Sobrevivi, sonâmbula, nas fissuras de uma promessa de eternidade
E tombei exausta na parte de trás dos poemas repetidos
Coberta de geada e sem sentidos.


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