segunda-feira, 4 de março de 2013

sentada com pétalas no regaço








Vem ter comigo ao fim do dia, todos os dias
Esperar-te-ei sentada
E no regaço terei pétalas de lírios
Para te lembrar que plantei amor no jardim.

Vem ter comigo ao fim do dia
Estarei à tua espera, de olhos postos num caminho a dois
E, de pálpebras cerradas, aguardarei o beijo
Que há-de serenar a angústia do olhar
Quando te penso longe e tenho frio.

Vem ter comigo ao fim do dia, todos os dias
E alisa as pregas do meu desassossego
Com a ternura dos gestos e a paz das mãos que se dão às minhas
Cruzando desejos maduros
Que fazem, ainda e sempre, estremecer as borboletas dentro do meu peito.

Vem ter comigo
E não te esqueças de trazer um vaso de água
Que deitarás sobre a terra do jardim, ao fim do dia, todos os dias.


Inverno




Foi no tempo invernoso das celebrações
Brilhavam luzes nas montras quando em mim se acendeu a chama das certezas.
E foi na sombra de um desassossego enraivecido
Que estilhacei contra o chão os vidros
Afogando-me depois no sangue de uma ferida aberta.
Mutilada.

Abriguei-me da vida na sombra ácida do estar simplesmente aqui
E sucumbi.
Nem as aves me encontraram para me debicarem as vísceras.

E no entanto havia as tuas mãos marcadas
Num resto de vida que me confundia os dias e as noites.
Como se um vento tivesse varrido a lucidez
E sobrasse apenas o pranto.
E o espanto.

Um muro alto vedou-me a luz
E o labirinto confundiu-me, numa solidão desconcertada.
Mutilada.
Sobrevivi, sonâmbula, nas fissuras de uma promessa de eternidade
E tombei exausta na parte de trás dos poemas repetidos
Coberta de geada e sem sentidos.